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SSobre o Projeto
Sobre o Projeto
O Projeto Curadoria Compartilhada parte do conceito de compartilhamento das práticas artísticas contemporâneas dos coletivos. O foco dessa ação coletiva compartilhada é o ativismo, por meio do qual participantes encontram meios alternativos de produzir conhecimento e arte.
Entendo que o trabalho de curadoria pode dar visibilidade a artefatos recusados, abandonados, esquecidos e fazê-los circular em circuitos mais amplos com novos sentidos. Desse modo, penso a Curadoria Compartilhada na docência como uma prática coletiva de discentes/docentes, provocadora de sentidos e seus efeitos, para desacostumar noções estereotipadas sobre o próprio processo pedagógico e seus, ainda, disciplinares componentes curriculares que, neste projeto são as noções reguladoras sobre quem decide o que pode ser arte e sua autoridade para legitimar essa produção. Proponho a participação ativa das licenciandas curadoras para desarranjar uma noção de arte como atividade desinteressada, autônoma, de um indivíduo superdotado, impelido por seus sentimentos, sob a influência de prévios artistas, independente do manifesto jogo das variáveis gênero, raça, classe.
Trabalhamos tendo como horizonte as estéticas decoloniais. No entendimento eurocêntrico uma das funções da arte é influenciar, afetar os sentidos, emoções, inteligência e a função da filosofia estética entender o sentido da arte. Para as estéticas decoloniais, tanto os processos do fazer, quanto seus produtos e entendimentos começam por aquilo que a arte e estética eurocêntricas ocultam, que é a ferida colonial. A colonialidade no campo das artes no Brasil tem negado as formas de vida e de produção cultural dos povos autóctones do continente americano e da diáspora africana que aqui chegaram, o que tem provocado um apagamento de seus modos de olhar, de aprender como também o uso de materiais próprios dessas culturas, legitimando, apenas, o olhar, instrumentos e materiais do colonizador.
Entendo que um projeto decolonial no Ensino de Arte procura distanciar-se, desprender-se das hierarquias impostas pela estética eurocêntrica, como arte x artesanato, prazer desinteressado x prazer interessado, noções aferradas nos critérios de superioridade x inferioridade e seus efeitos, que tem classificado todas aquelas obras que não alcançam o prestígio de criação artística dado por um sistema da arte colonialista como arte primitiva, ingênua, naif, popular. As estéticas decoloniais pretendem instalar os termos de uma outra conversação para falar de nossas experiências concretas de estar sendo no mundo contemporâneo, na qual se escutem e atendam outras vozes, mais além das vozes e dos discursos especialistas.
É a partir dessa rede de conceitos que para ampliar nosso repertório cultural incluímos semanalmente uma artista em nossos contatos das redes sociais. Assim, ao acessar essas redes também nos aproximamos da produção artística visual contemporânea ampliando nossos repertórios. Para incitar essa inclusão sugiro uma lista de produtoras contemporâneas, consciente de que essa lista é movente, incompleta e inconclusa, pois muitas mais são as mulheres que se dedicam às Artes na contemporaneidade. Esse exercício não pretende instrumentalizar as estudantes curadoras sobre como fazer, mas sim que se percebam capazes de colaborar entre si a partir de seus interesses, identificações e preocupações como mulheres e docentes atravessadas pelo sexismo, racismo, patriarcalismo, pela violência da colonialidade do poder.
Assim como Griselda Pollock desenvolveu seu Museu Feminista Virtual a partir da visão de cartões postais da escultura As Três Graças, de Antonio Canova (1757-1822), e não da contemplação da obra física em um espaço físico, fazendo uso do aspecto mais interessante de um museu, que é o encontro com a obra, para explorar a potencialidade de um contramuseu -uma leitura a contrapelo da narrativa heroica, nacionalista e formalista da história da arte eurocêntrica- nosso exercício partiu do encontro com a produção artística dispersa nas redes sociais, como uma oportunidade de colocar em ação outros modos de aprender em e da relacionalidade. Desse modo, o exercício subverte os papéis e atribuições de legitimação da produção artística reconhecendo essa função a pessoas que habitualmente não as exercem, como as curadoras licenciandas que consomem compulsivamente música, ilustrações, séries, filmes, histórias em quadrinhos, entre muitos outros artefatos culturais nos espaços de hipermobilidade em que habitam, mas não se autorizam a emitir um juízo sobre essa produção.
Não partimos do estudo da mesma obra entre todas nós no mesmo momento, mas navegamos em busca das imagens que capturem nossa atenção em termos de nossa própria experiência. Consideramos a ilusão do autoreflexo, a de estarmos, de algum modo, refletidas nas imagens que nos convocam, que solicitam nosso olhar e que poderemos associar e combinar com outras imagens, dar nossas palavras para contarmos o que vemos. Assim cada curadora licencianda produz seu texto curatorial. São textos que não contemplam o sistema classificatório da história da arte eurocêntrica, como dados biográficos e cronológicos, formais e estilísticos, mas privilegiam a relação das curadoras com essas imagens, nos aproximando dessa produção como proposições, como uma oportunidade para nossas escrevivências, em palavras de Conceição Evaristo, aquela escrita que emerge da experiência de vida da própria autora e do seu povo, para incomodar os projetos injustos.
Em Projetos Expositivos apresentamos as imagens selecionadas e os textos gerados pela escrevivências das curadoras licenciandas. Nem sempre as curadoras querem identificar-se e assinam, apenas, como Licencianda em Pedagogia.